7 de novembro de 2010


Perdi o gosto bom das coisas, ela disse no começo da manhã. 
Fiquei pouco atônita, pouco pensativa, como assim? Perdi, ela disse. 
No final do dia, depois de horas de trabalho, alguma desilusão, dor nas costas por passar mais de oito horas sentada, o corpo doido por uma água morna, os pés implorando uma pantufa cheia de aconchego, a barriga pedindo por favor uma comida boa e honesta, o coração pulando em busca de um porto, eu entendo. Entendo o gosto dilacerado ou perdido ao longo do dia. Mas uma manhã como essa, pura e nova e fresca e tão azul, de um azul bonito e quente, um azul vivo e limpo, não sei.


Clarissa Corrêa

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